Actualmente, os 47.817 habitantes do concelho estão distribuídos por 216,72 Km2 e distribuídos por 36 freguesias: Aboim, Agrela, Antime, Ardegão, Armil, Arnozela, Cepães, Estorãos, Fafe, Fareja, Felgueiras, Fornelos, Freitas, Golães, Gontim, Medelo, Monte , Moreira do Rei, Passos, Pedraído, Queimadela, Quinchães, Regadas, Revelhe, Ribeiros, Arões (São Romão), Arões (Santa Cristina), São Gens, Silvares (São Clemente), Silvares (Santa Cristina), Seidões, Serafão, Travassós, Várzea Cova, Vila Cova, Vinhós.
Tendo em conta as características geográficas do concelho, podemos sugerir a sua divisão em duas partes distintas, tendo em conta as identidades do relevo dominante e as formas de organização dos aglomerados habitacionais: as freguesias do Norte e as do Centro/Centro. Sul do Município.
O Norte – planalto – é o local onde se encontram as pequenas aldeias de tipo concentrado e, ao mesmo tempo, onde se inscrevem os pontos de maior altitude do território local: Monte do Santinho (Quinchães) 706 m; Pousa Foles (São Gens), 718 m; Serra do Marco (Povoação, São Gens), 851 m; Maroiço (São Miguel do Monte), 834 m; Morgair (Gontim), 893 m; Monte de Penas Aldas (Freitas), 543; Santa Marinha (Freitas/Travassós), 597 m; Listoso (São Vicente de Passos), 584 m; Santo Antonino (Santa Cristina de Arões), 526 m; São Sabagudo (Armil), 542 m; Calvelo (Seidões), 724 m.
As estruturas arquitetónicas rurais, tendo em conta a função, são compostas por alojamentos, equipamentos de abrigo de animais e estruturas dedicadas aos produtos agrícolas (armazenamento e secagem de cereais, feno e ervas aromáticas).
Essas estruturas ganham diferentes dimensões e formas de acordo com as características naturais do local e o tamanho do imóvel ao qual estão ligadas. A morfologia do planalto, a altitude, o clima e a natureza do solo moldaram o tipo de povoamento, a organização da propriedade e os modos de exploração dos recursos locais.
Assim, se o ambiente natural condicionou e tipificou cada uma das microrregiões, não ignoramos os fatores sociais e tecnológicos associados aos processos de humanização, bem como os atos sociais que os distinguem.
Os relevos existentes na paisagem escondem ainda pequenas e antigas aldeias, algumas mais resguardadas dos ventos do norte e outras cuja ocupação foi determinada pela abundância das nascentes.
Da observação da distribuição dos aglomerados populacionais a Norte, conclui-se que o planalto e as encostas do Norte são constituídos por um elevado número de pequenos locais habitados e aglomerados dispersos na serra e, ao mesmo tempo, um pequeno número de aldeias: Vilela ( Quinchães); Casadela (Quinchães); São Lourenço (Quinchães); Montim (Quinchães); Hambúrgueres (São Gens); Povoação (São Gens); Vila Pouca (Moreira do Rei); Barbosa (Moreira do Rei); Vilela (Moreira do Rei); Bastelo (Várzea Cova); Lagoa (Várzea – Cova); Gontín; Mós (Aboim); Argande (São Miguel do Monte); Luilhas (São Miguel do Monte); Casal de Estime (São Miguel do Monte); Castanheiro (Travassós); Listoso (São Vicente de Passos) e outras pequenas localidades como: Vilardoufe, Fontela, Barbeita, Santa Cruz, Cheda, Calcões.
De pequena dimensão, existem também os aglomerados de Aboim, Gontim, Pedraído, Várzea – Cova, Felgueiras, São Miguel do Monte e Queimadela, estes com estatuto de freguesia.
Estes são alguns dos locais habitados do planalto de Montelongo que se estendem por aquela vasta área geográfica, cujos habitantes ainda mantêm uma agricultura com solos pobres e predominantemente arenosos.
Sobre estes locais Maria Palmira (1952), dizia-se que se andava por montes e serras onde ninguém se via, mas apenas, de longe para longe, rebanhos de cabras e ovelhas guardados por um rapazinho, sentindo, quem ousasse este passeio , isolado e em uma região desértica ou desabitada.
O planalto e as plataformas intermédias das encostas apresentavam as condições naturais propícias à aplicação das primeiras técnicas agrícolas e das primeiras experiências agrárias do Neolítico: existência de água à superfície durante todo o ano, onde se formam linhas de água e um solo arenoso de fácil incisão. .
Pode-se dizer que o nórdico sempre foi mais pastor do que agricultor, sem nunca ter alcançado alívio econômico; antes, assumindo uma existência precária e isolada, onde as soluções técnicas encontradas para resolver os problemas de adaptação da comunidade às adversidades climáticas, nomeadamente os modelos arquitetónicos e a organização espacial, estão intimamente relacionadas com as características do sistema social da comunidade.
As casas adaptam-se às encostas dos pequenos montes, desenvolvendo-se o conjunto habitacional nas encostas que apresentam, ao longo do dia, melhor exposição solar, viradas a sul e poente, reservando o sopé do monte para a agricultura. Algumas das freguesias que se desenvolveram nas encostas mais acentuadas viradas a norte não respeitam essa orientação, com
nas nascentes das encostas, durante todo o ano.
Todos eles organizaram uma paisagem de povoamento concentrada no planalto norte, onde se abrigam animais e pessoas, ganhando algumas construções em amplitude e dimensão construtiva, não sendo estranha a ação de aumento de renda decorrente da expansão da propriedade e também da exportação de capital da emigração do século XIX.
«Nas freguesias do norte, as casas estão todas próximas umas das outras, formando verdadeiros aglomerados populacionais que, ordinariamente, constituem os diferentes locais. […] Luilhas situa-se na encosta, meio desaparecida pela cor cinzenta escura das suas sebes, quase todas de pedra, algumas ainda cobertas de colmo, completamente escurecidas pelo tempo e pela falta de limpeza dos seus proprietários. Parece uma aldeia morta entre carvalhos e pinheiros raros que a emolduram monotonamente.
Miguel do Monte tem alegria e vida na variada vegetação, no branqueamento das suas casas, todas caiadas de branco, mesmo as mais pobres, que se avistam de regiões muito distantes.
As casas do norte eram objeto de minha atenção particular. São, em geral, térreos e com dependência em piso. A cozinha está localizada no piso térreo, que me interessava mais, enquanto o segundo andar é destinado ao quarto ou quartos.
Encontrei também casas de um só piso, servidas por uma escada exterior em pedra, reservando o rés-do-chão – o pátio – para abrigo dos animais.
As casas mais pobres não são muito limpas. Não é assim nas paróquias do sul onde, mesmo em casas térreas, o cuidado e a solicitude às vezes rivalizam e superam, às vezes, os de pessoas ricas e nobres”. [1]
Se o conjunto arquitetônico rural foi ampliado, no final do século XVIII e XIX, com a justaposição de novos elementos (celeiro, eiras e alpendres), principalmente no Centro/Sul, o que foi viabilizado pela existência de mais mão de obra e a existência de aumento de renda para seus proprietários, os pequenos equipamentos agrícolas aparecem além dos limites do conjunto tradicional.
Se estes lugares serranos do norte do concelho marcam os primeiros locais de ocupação humana, o momento seguinte do processo de humanização da paisagem caracteriza-se pela progressiva aproximação aos vales, onde, no alvorecer da história, se situavam os Castros. nas colinas do Centro/Sul do Concelho, localizada em espaços abertos e junto a vales com água abundante.
Razões tecnológicas ligadas à utilização de novos materiais, nomeadamente ferro, e novas tecnologias, dão origem, a partir desta época, a dois ambientes distintos: o planalto e o vale.
Assim, as condições de integração e interdependência do Homem, natureza e tecnologia, determinaram, ao longo dos séculos, o processo de humanização dos territórios, que se iniciou no Planalto Norte e que perdurou ao longo do tempo com a fixação das populações nas zonas ribeirinhas do Planalto Norte. sul, principalmente durante a romanização e durante a Idade Média.
A divisão interpretativa do território em duas partes distintas, surge neste processo de humanização, através da construção de ecossistemas sociais particulares, com uma progressiva expansão demográfica e populacional no Centro e Sul do concelho, mais aberta, desde a Idade Média, por a existência de antigas vias de comunicação ligando o litoral ao interior, a circulação de pessoas, bem como a facilidade de recepção de novas tecnologias e novos comportamentos sociais.
O sistema social de interdependência é expresso pela prática tradicional de pastoreio por uma única pessoa que conduz a serra até Vezeira, composta pelos ovinos e caprinos de todos os que possuem este tipo de gado. No inverno, às onze horas, ao som de uma buzina, os rebanhos saem em busca de pastagens, retornando ao final da noite. Cada animal é marcado por uma fita colorida indicando a família do proprietário.
A utilização das pastagens de montanha é gerida por toda a comunidade como se fosse um bem para todos, mantendo-se ainda a bezeira como forma de pastoreio de pequenos animais, e quem tem facão não é obrigado a levar a manada. (cabra), prática ainda observada no lugar da Lagoa, dividido pelas freguesias de Aboim e Várzea Cova. A cada dia o pastor era diferente, que muda tantas vezes quantas famílias têm gado na bezeira.
Esses habitantes mantinham uma existência econômica precária com implicações sociais, como o surgimento de uma visão mítica, nas décadas de quarenta e cinquenta deste século, de bandos de ladrões, cujos efeitos se manifestavam em períodos de menor migração e emigração:
«Ladrões, só os de Luilhas e o famoso bando dos sortudos, que são quase uma centena, todos da mesma família, a viver em Felgueiras, nas encostas de uma colina, quase numa comunidade, dos roubos que fazem Fora. As autoridades não querem nada com eles porque são rebeldes e vingativos”. [7]
Aqui, a baixa rentabilidade das terras agrícolas e a
A capacidade de promover a sua expansão contribuiu para a manutenção e valorização das actividades ligadas à pastorícia e determinou um sistema social de cooperação através da distribuição de tarefas e interajuda nas actividades pastorais.
A propriedade individual tem uma forte marca social, seja ao nível da casa, dos animais, ou mesmo da gestão do tempo como propriedade, sobretudo se esta estiver ligada à utilização dos equipamentos coletivos.
Aqui, o tempo tinha a dimensão da propriedade, medida pelo tempo de utilização dos moinhos e da água de rega, que há muito era marcado e cumprido fielmente sem que se observasse a existência de contratos escritos.
Assim, como se fosse um ritual, todos testemunhavam e controlavam as regras e os tempos de seu uso, o que não deixava de produzir conflitos e, às vezes, mortes.
As usinas são pequenas, atendendo a vários proprietários, que são coletivamente responsáveis por sua manutenção e operação. A propriedade do tempo de moagem é aqui símbolo e referência da dimensão da propriedade e da importância social do seu proprietário.
Relativamente ao Centro/Sul do concelho, José Augusto Vieira utiliza as expressões: “bacia larga”, “vale extenso”, definindo correctamente a morfologia e orografia do centro e sul, como sendo, de facto, os elementos do relevo que melhor caracterizá-lo.
Aqui, a área agrícola com solos mais férteis corresponde aos locais de instalação dos principais aglomerados populacionais, assentes numa paisagem aberta. Existem antigos canais fluviais e sistemas de irrigação específicos para fazendas individuais, em que a autonomia produtiva das unidades agrárias permite o cultivo de milho, batata, feijão, cipós, produção de feno e ervas.
«No sopé de uma colina, sobre a qual se ergue a casa de Vieira de Castro, serpenteia uma ribeira de águas límpidas, que se juntará ao Ave. As margens escarpadas desta ribeira eram o nosso passeio de predilecção forçada, que não tínhamos outro.
Conosco estava Netuno, o cão da Terra Nova, que eu havia dado ao meu amigo, como se fosse um dos raros seres da criação por quem senti mais afeto. Netuno brincava no riacho do riacho, e assim nos dava horas de lazer, que a raça humana não poderia nos dar mais diversão do que arrependimentos entorpecidos.
Há naquele córrego uma cachoeira em que a torrente ferve, troveja e rompe com grande barulho em uma bacia eriçada de rochas.
As árvores marginais entrelaçam-se num pavilhão escuro sobre a bacia, deixando pequenas margens de relva sobre flocos de granito onde nos sentávamos, pelo menos eu, enquanto Vieira de Castro conversava à moda de Fafe com o moleiro do moinho vizinho. O lugar pitoresco chama-se: Ponte do Barroco.” [8]
O centro/sul do concelho, tendo um relevo de baixa altitude, facilitou os contactos entre freguesias vizinhas e com as sedes de outros concelhos, facilitando a modificação de comportamentos.
« A Quinta do Ermo situa-se no local mais despótico e triste do mapa-múndi. A casa é magnífica; mas os caminhos que levam a ela são grutas, barrocos, trilhas de cabras, becos tortuosos e desfiladeiros acidentados.
As florestas de pinheiros e bosques que fazem fronteira com parte da fazenda são atrofiados e pouco atraentes.
Os amplos miradouros, embora monótonos, têm de ser conquistados com muito esforço na subida. O bairro do Ermo são pequenas casas de jornaleiros, que ali vinham à procura da sombra do edifício nobre.” [9]
As vinhas, plantadas nestas zonas de elevada humidade, são levantadas em altura, ajustadas às árvores que ladeavam os campos e alcançavam alturas espectaculares, procurando os ventos e afastando-se assim da humidade do solo que impedia a sua maturação e o seu desenvolvimento.
Aqui localizam-se as maiores unidades agrícolas indicadas por 26 brasões do século XVIII e XIX, implantados nas fachadas das casas ou incorporados em exuberantes portões ou muros da habitação dos senhorios, existentes nas freguesias de Medelo, Golães, Fafe, Fornelos, Quinchães, Armil, São Romão e Santa Cristina de Arões, Moreira, Ribeiros, despontando como símbolos de prosperidade e poderes senhoriais. [10]
A propriedade chama-se quinta aqui e as colinas são extensamente arborizadas com pinheiro bravo, eucalipto e alguns sobreiros, pelo que não se observa o pastoreio. O gado pasta nos campos ou se alimenta nos currais. O milho é produzido mais intensamente aqui e o vinho da ramada é de melhor qualidade.
O principal fator de desenvolvimento e sucesso econômico e social que os moradores vivenciaram foi baseado na propriedade rural, onde afirmaram seus conhecimentos técnicos e definiram comportamentos sociais e culturais que perduraram localmente até a década de 1960.
Mas a grande transformação da paisagem ocorre com a introdução das culturas ameríndias, das quais se destacam o milho e a batata.
O habitat é semi – disperso e «as casas espalham-se pela freguesia» [11] sendo ainda hoje reconhecida a existência de conjuntos de habitações
integrados no espaço agrícola, organizados em núcleos ainda relativamente homogéneos e distintos das construções actuais, mais marcadas pelos eixos rodoviários.
No topo de pequenas colinas avistam-se as igrejas paroquiais, estrategicamente localizadas em pequenas elevações, de cujas torres se avista e vigia facilmente o território paroquial, funcionando como a principal referência para as aldeias e seus habitantes.
O vale, onde se desenvolveram a maioria dos locais mais populosos e ricos do concelho e onde se instalaram as referências socioculturais da freguesia, nomeadamente a igreja paroquial, constitui o principal elemento de afirmação e referência desta área territorial.
Nesta área, com água periodicamente abundante ou intensivamente utilizada e dividida por consortes, o clima é mais ameno, o solo mais rico, os campos mais extensos e irrigados, o que, em conjunto, permitiu o surgimento de unidades produtivas mais rentáveis, geradoras de mais riqueza e casas de maior prosperidade e tamanho.
« Nas freguesias do centro e sul do concelho, as condições de vida são diferentes, influenciando muito o modo de ser dos homens.
Nestas, sobretudo nas mais próximas da aldeia, a agricultura é menos valorizada, há mais espírito de independência, mais autonomia.
Cada um se preocupa com o que lhe diz respeito e se desinteressa pela vida dos outros. Surpreendeu-me o despovoamento de algumas aldeias que, por se localizarem na periferia da cidade, apaixonaram-se facilmente pela vida citadina, trocando rapidamente a vida sedentária e igualmente laboriosa do campo pela azáfama quotidiana da vida fabril. » [12]
Os lagares de azeite, os moinhos de água, as serrarias hidráulicas, as centrais hidroeléctricas e a fábrica de papel são as muitas formas de aplicação da energia hídrica que ainda se podem identificar nos leitos dos rios de Fafe, sem esquecer que foram responsáveis pela instalação de Indústrias têxteis do século XIX.
Este vale serpentino, sempre guardado por igrejas, estrategicamente localizado em pequenas colinas e, de cujas torres é fácil ver e observar a extensão do território povoado, sem os cantos das meninas felizes entre os milharais que outrora desafiavam encontros escondidos ou namoros guardados nos campos.
« Na aldeia e nas freguesias vizinhas e do sul, as pessoas são muito mais sociáveis, conversando com estranhos como se os conhecessem há muito tempo.
Em geral, as pessoas são generosas, desinteressadas e reconhecidas. Consegui todas as informações e esclarecimentos que queria, sem ter que pagar grandes quantias. Se eu lhes oferecia meu almoço, depois de algumas desculpas, eles aceitavam; não é assim quando se trata de dinheiro.”
[13]
Se no Norte se destacam os aglomerados, no Centro/Sul o que se destaca na paisagem são os campos amplos, o verde plano e o carácter disperso das habitações, embora cada vez menos visíveis ou percetíveis, sendo, em 1952, o cidade velha de Fafe, pólo de atracção demográfica: « Fiquei espantado com o despovoamento de algumas aldeias que, por se localizarem na periferia da cidade, apaixonaram-se facilmente pela vida citadina, trocando rapidamente a vida sedentária e igualmente laboriosa do campo para a agitação diária da vida fabril. » [14]
A freguesia de Fafe como único espaço “urbano” do concelho, onde se situa a administração do concelho, surge já no século XIX, como lugar de novas representações simbólicas e outras formas de vida quotidiana, onde quem não amo o trabalho agrícola ao vivo.
Como indicador de vivência no território local, no final do século XIX, o meio de transporte era a pé e pela serra.
«Fui de Santo António das Taipas aos arredores de Fafe, Quinta do Ermo, onde José Cardoso Vieira de Castro me esperava de braços abertos e sorriso […].
Não esquecerei uma impressão que durante muito tempo trouxe comigo por aquelas montanhas, onde passei três meses. Era a imagem de uma mulher que carregara a minha mala de Guimarães a Ermo sobre a cabeça, atravessando uma légua e meia de montanhas escarpadas. […] Não me lembre da minha vida, senhor.
Finja que sou uma desgraçada, que vai ganhar seis pence com este baú na cabeça. […].” [15]
As propriedades agrárias do Centro/Sul assumiram maior autonomia, gerando um processo de exploração mais autônomo dependente apenas da família ou com recurso ao trabalho assalariado.
«No centro e no sul, as casas estão espalhadas pela freguesia. Ainda vi alguns telhados de palha no norte, mas poucos. São quase todos feitos de pedra e azulejo, sem cal. Mas, ao lado destes, há bons edifícios, casas caiadas de branco, com varandas de ferro e escadas de pedra, até ao primeiro andar.
A vila e as freguesias vizinhas têm boas construções modernas, na sua maioria eletrificadas. No Norte, isso é apenas excepcionalmente verdadeiro.”
Só que agora, ambos mostram alguma dimensão, refletindo os efeitos coloridos de uma Europa acentuada
uma emigração, onde se vêem novas imagens e símbolos de novas “prosperidades” de proprietários ainda ausentes, e sinais ocultos de outras migrações de povos, que há muito conhecem a experiência migratória.
Apenas a emigração europeia do século XX provocou alterações na paisagem com novas construções subordinadas a novos modelos arquitetónicos e novos materiais, e em alguns locais os aspetos da antiga paisagem ficaram irreconhecíveis.
Hoje, as novas construções indicam a transformação de uma comunidade interajudante ou cooperante em sociedades individualizantes, determinadas pelo sucesso e produto dos emigrantes da Europa.
Esta atitude já era comum no Centro/Sul do concelho, quer pelo carácter autónomo da propriedade, onde predominava a quinta, quer pela presença de indústrias, que se instalaram nesta parte do concelho no segundo metade do século XIX, ou pelo surgimento de novos símbolos como a casa do “brasileiro”.
Miguel Monteiro (1996),
Migrantes e Emigrantes Brasileiros,
Territórios, itinerários e trajetórias,
Braga, Universidade do Minho,
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[1] Pereira, Maria Palmira da Silva, Fafe- Contributo para o Estudo da Linguagem, Etnografia e Folclore do Concelho, Coimbra, Casa do Castelo, 1952, p. 28-38
[7] Pereira, Maria Palmira da Silva, Fafe- Contribuição para o Estudo da Linguagem, Etnografia e Folclore do Concelho, Coimbra, Casa do Castelo, 1952, p.27
[8] Castelo Branco, Camilo, As Memórias do Cárcere, Lisboa, 1ª ed. Parceria AM Pereira, Lda, 1862
[9] Idem, ibid.
[10] Brasão do concelho de Fafe, Fafe, Câmara Municipal de Fafe, 1986
[11] Pereira, Maria Palmira da Silva, Fafe- Contribuição para o Estudo da Língua, Etnografia e Folclore do Concelho, Coimbra, Ed. Castle House, 1952, p.38
[12] Idem, ibid.
[13] Idem, ibid.
[14] Idem, ibid.
[15] Castelo Branco, Camilo, As Memórias do Cárcere, Lisboa, 1ª Ed., Parceria AM Pereira, Lda,